quarta-feira, 8 de abril de 2009

Terminal Lapa - Vila Mariana

Viu o sorriso em meu rosto o menino, e como que carente achegou-se, olhou-me, sorriu. Ainda era todo espera o ponto de ônibus. A moça, bastante jovem, não mais que uma adolescente que por um acaso tivera a sorte de ser mãe antes de ser mulher. A criança, pequena, loira, falava coisas tolas querendo chamar minha atenção.

– Mãe.

As frases incompreensíveis do rostinho branco sobre os ombros morenos diziam-me a história de um romance que eu jamais escreveria, mas cuja trama fascinou-me, de sobressalto, fui todo folhetim.

Dois jovens sem experiencia alguma, duas famílias, a moça e seu pai de bigodão autoritário e clássico. Todos estes elementos combinados. Não o verbo feito carne na figura miúda do garoto, o verbo em minhas retinas, e apenas nelas, com direito a fim trágico e tudo.

Não! Nada de morte, meus amigos, não teremos hoje o encontro comum de todos os homens, aquela moça estava ali, em toda sua beleza de agora mulher. Morria apenas o tempo. Ela em seus dezenove anos, mais ou menos, e a criança em seu colo certamente viviam plenitude semelhante a de minhas entranhas, - estranhei - a vastidão da moça e sua cria, toda paisagem que aos poucos transmutava-se, eu era Quixote.

Cavaleiro andante sem cavalo, ela sem tranças, ele indiferente. Outras pessoas, no outro lado da avenida, passavam. Nunca tão distantes foram as margens da Sumaré. Os carros que vinham, corredeiras.

– Mãe.

Num momento aquelas palavras fizeram-se enigma. É preciso fixar os olhos nos objetos e ver o que eles na verdade são, despertamos em outro ponto da vida nossa alma e vermos pela segunda vez o que não vimos ao primeiro encontro; este é o meu fardo.

O ponto tornou a ser espera. O ônibus chegou, propositadamente tomei um acento distante da menina e sua criatura, tão distante que os meus olhos não tornariam a encontrá-la, olhos que novamente percebiam passivamente o mundo a sua volta, toda minha volta. O restante, até aqui, foi apenas uma passagem limitada de instantes.

...pliniopereiradesousa

2 comentários:

Wesley Diego disse...

Muito bom meu caro amigo !!!

Unknown disse...

Adoro a forma com que transmite as emoções. Nada convencional, mas sim como os pensamentos...